Crónica de Alexandre Honrado
Agora a sério (está calor e faz um frio de rachar)
A cimeira COP26. O ponto de encontro das nossas derrotas.
O ambiente, o meio ambiente, o planeta agredido.
Tínhamos uma casa pródiga. Uma casa comum, que maltratámos. A Natureza, sempre generosa, quer agora o que lhe pertence. Protesta, contesta, avança. Fomos e somos nós quem a provocou. Dói-nos pouco os remorsos.
Olhamos à volta e vemos o plástico que, quando chega aos oceanos, mata-nos ainda mais rapidamente.
Olhamos de perto e os combustíveis fósseis acabam connosco, dando-nos ainda a ilusão de dar-nos alguma coisa.
Ontem, andámos a gritar: Nuclear não, obrigado! Hoje ouvimos que a energia nuclear está a ganhar força, como solução preferida de muitos países, para alcançar a chamada neutralidade carbónica, em 2050, tida como essencial, para limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 graus centígrados.
Temos momentos históricos em que estamos compreensivelmente confusos. Mas viemos de múltiplas mutações. Andámos de gatas, comemos do chão, pusemo-nos em pé, chegámos à Lua.
Somos ponto final ou reticências?
Substituímos a moral por uma cegueira voluntária. Indignamo-nos com a chuva excessiva, o furacão, o tsunami, os incêndios devastadores, a praia que desapareceu, o areal que invadiu o nosso campo de cultivo.
Teimamos em não aprender nada, como se isso fosse a lição mais dura da sobrevivência. E todavia estamos cá.
Olhamos com surpresa como mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos estiveram reunidos, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre alterações climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. Olhamos com surpresa. Por eles somos nós, e todos juntos não sabemos muito bem o que fazer, porque alguns de nós, precisamente, não estão connosco, não querem saber de nós e de si mesmos.
Alexandre Honrado
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